• Fabrício Calado
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LONDON, ENGLAND - OCTOBER 20:  Slavoj Zizek attends the Premiere of 'The Pervert's Guide to Ideology' during the 56th BFI London Film Festival at Odeon West End on October 20, 2012 in London, England.  (Photo by Tim Whitby/Getty Images for BFI) (Foto: Editora Globo)

Slavoj Žižek em foto de 2012 (Photo by Tim Whitby/Getty Images for BFI)

Três piadas típicas deste livro:

Quando, em João 8,1-11, Cristo diz aos que querem apedrejar uma adúltera “que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”, é imediatamente atingido por uma. Em resposta, Cristo grita: “Mamãe! Eu disse para você ficar em casa!”


Diálogo entre Estados Unidos e Europa no final de 2002, quando a invasão do Iraque estava sendo preparada. Os EUA perguntam à Europa:
“Vocês querem se juntar a nós no ataque ao Iraque para encontrar a arma nuclear?”
A Europa responde:
“Nós não temos equipamentos para procurar armas nucleares”
Ao que os EUA respondem:
“Não tem problema, não existe nenhuma arma nuclear no Iraque.”


Um ricaço diz ao seu criado:
“Expulse daqui esse mendigo - sou sensível demais, não suporto ver ninguém sofrendo.”

 

Chistes assim são comuns na obra do filósofo esloveno Slavoj Žižek, conhecido por qualquer um com certa quilometragem de leituras da esquerda contemporânea. Para defini-lo em um parágrafo, ele é basicamente um tarado por Hegel, Lacan e Marx que usa cineastas como Hitchcock e David Lynch para ilustrar conceitos densos da psicanálise e da filosofia. A sinopse de sua produção até aqui seria isso.


Um exemplo: ele já usou o filme Batman, O Cavaleiro das Trevas pra explicar a ideologia. Em dois tuítes, o raciocínio de Žižek é: Batman leva a culpa e vira o inimigo público número 1 pela morte de Harvey Dent porque Gotham não aguentaria saber que seu promotor-maravilha foi pro lado errado da justiça. Do mesmo modo, a ideologia é a mentira que sustenta nossa ordem social. Por coisas assim, Žižek fez temas filosóficos viralizarem.


Semelhante a um personagem cheio de bordões de qualquer programa chinfrim de TV - o fungar de nariz, os “you know”e “and so on, and so on” que começam e terminam várias frases , Žižek escreve e dá palestras em escala industrial, e já foi tema de ao menos três documentários.

 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

Do mesmo modo bizarro que o psicanalista francês Jacques Lacan, uma de suas referências, Žižek se tornou sexy à sua maneira - como pode-se comprovar por memes como o Tumblr Žižek Fashion e a dança pervertida, sem contar o currículo matrimonial do filósofo, que inclui um casamento com a modelo Analia Hounie. Rumores também teriam apontado um affair com Lady Gaga.


Ele é o anti-Chomsky, o cruzamento obsceno do Porta dos Fundos com os textos de Vladimir Safatle. Talvez por isso, outro jeito de medir a obra do filósofo é pelo tamanho de seus opositores: procure no Google, essa maravilha do totalitarismo, por “Žižek Pondé” e “Žižek Pereira Coutinho”. São comuns críticas a seu pensamento, nem sempre claro, e frequentemente, aparentemente, contraditório.


Seja a crítica procedente ou não, Žižek tem o mérito de tornar a filosofia de novo interessante até para quem está do lado de fora da academia. É algo que andava meio em baixa desde que Nietzsche matou Deus.


Como o nome entrega, este livro, As piadas de Žižek- Você já ouviu aquela do Hegel e a negação? (Editora Três Estrelas, 168 páginas, R$ 32) uma leitura de banheiro que reúne algumas das anedotas recorrentes do filósofo. Não raro, elas ilustram seus principais conceitos com mais eficácia que suas explicações rebuscadas. Também com frequência, são piadas que se repetem, com variações do mesmo tema.


Não é para experimentados ou para quem procura algo mais parrudo - pense nisto livro como um “greatest hits” das piadas do autor. Para quem dificilmente anima de se aventurar a ler os outros pesos de porta escritos pelo filósofo, este conta com menos de 200 páginas - e está de bom tamanho.